Orientações para 2012

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Análise das energias da Numerologia e do Tarô que influenciam 2012 – Programa Universo in Foco (04/01/2012)

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sábado, 10 de janeiro de 2009

• Amor é sorte?

Casal

Gilmar Marcílio

Algumas pessoas merecem mais ser amadas do que outras? Que leis regem o destino afetivo de cada um? Ponho-me a fazer estas perguntas disparatadas depois de olhar, e tanto olhar, ao meu redor. Vejo os que arrastam uma solidão que tem o peso do mundo. E são luminosos, todos os poros transpiram desejo, necessidade de estar com o outro, sempre o outro. São serenos, lúcidos e inteligentes. E estão sós. Maravilhamo-nos com sua conversa – que se desdobra como uma página de boa literatura –, sua disposição para os encontros, o trabalho incessante para limar o que obstrui certas qualidades. Mas não há jeito, haverão de atravessar a vida sem o calor de um abraço, a cumplicidade de um gesto que se completa apenas com a presença do ser amado.

E, no entanto, passeiam ao lado de criaturas menos solares, destituídas de encantos físicos, de alma frouxa, mas que caminham aos pares, carregando um amor de toda a vida como o troféu merecido, o justo prêmio destinado aos escolhidos. Sorte ou predestinação? Trabalho incessante ou mero acaso? A questão é simplesmente estar no lugar certo, na hora certa, dizem. Não sei destrinchar esse mistério, pois não pertence à ordem da razão. O que me perturba é constatar que, em matéria de afeto, não existe uma fórmula que possa nos conduzir mais rápido para a tão sonhada entrega, a fusão redentora. A fronteira enfim alcançada.

Converso com escritores, psicólogos. Minha súplica por respostas alcança os bem pensantes, os que desdobram os seus dias refletindo. E nada. Haverei de morrer ignorante. A mim coube uma larga cota, mas não sei se fiz por merecê-la. O que temos, quando temos, quase desaparece, mesmo sendo o centro de tudo. Tornamo-nos cegos para o que nos pertence. Platão: desejo é falta, incompletude. Somos tortos, de visão embaçada, dependentes. E, apesar disso, nos amam.

Há os que creem em receitas salvadoras, em exemplos que devem ser copiados. Doces imposturas que nos maltratam, deixando um travo amargo na boca. Não basta querer amar para ser amado. Todo o esforço é vão e há apenas o silêncio dos séculos, dos túmulos, da vontade vencida. O que não deve travar a incessante tarefa de sermos modestamente melhores. Quem sabe logo ali, a dois passos, a busca termine. E poderemos sentir, enfim, o hálito das estrelas, o voo vertical do sol que se reconhece em outro sol, dissipando a noite.

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Fonte: Pioneiro
E-mail: gilmar.marcilio@pioneiro.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Adoro Gilmar Marcílio e suas crônicas. Muito escolhida esta no seu blog.
Abraços
Isabel