Gilmar Marcilio
Não queime as pontes que você já atravessou. Talvez seja preciso passar por elas novamente, algum dia. Costumo reler seguidamente estas frases, até para não ceder à tentação de uma conveniente amnésia, provocada pela incapacidade de enfrentar meus próprios erros. A vida é circular, e emoções que já pensávamos enterradas costumam ressurgir nos momentos mais inesperados. Pessoas vão e vêm ao sabor das circunstâncias. Amadurecer não nos torna imunes à dor e podemos voltar a cair em velhas armadilhas. E é fato sabido que às vezes somos salvos de muitos precipícios pela descoberta de alguma ponte que deixamos intacta.
Não é incomum encontrar criaturas que se vangloriam de ter conquistado fortuna ou fama jogando no lixo princípios e valores. Percorreram a estrada ateando fogo nos lugares já ultrapassados. Usam e descartam, esquecendo-se que caminhamos todos sobre uma corda esticada e frágil. Ao mais breve descuido, e inúmeras vezes sem que possamos interferir, uma mão invisível nos achata, devolvendo-nos à nossa real estatura.
A ideia de ir em frente pode ser apenas uma ilusão. Não raro pisamos sobre o mesmo solo, revemos antigas paisagens. Por força do hábito, pela repetição incessante de gestos e sentimentos, encolhemo-nos e continuamos a girar dentro de pequenos espaços. Às vezes, é preciso revisitar algumas histórias para descobrir onde falhamos, em que momento deveríamos ter mudado, pois o passado costuma borrar o presente com insistência incômoda. Resultado de culpas e situações mal resolvidas, que voltam a nos assombrar. Psicologia elementar, mas que não custa trazer à tona. Avançamos estrepitosamente, fazendo de conta que nada ficou para trás. Ocorre que somos o resultado da sucessão de muitos dias, e vale lembrar que humildade para rever atitudes não tem nada a ver com fraqueza. É, antes, uma aposta em nossa capacidade de destravar outras portas.
Olhar com lentidão, debruçando-se devagar e cuidadosamente para dentro, familiarizando-se com todas as pontes que nos permitiram chegar até aqui. E seguir aplainando as estradas que ainda não sabemos onde vão dar. No fim, talvez seja possível entender o nosso princípio. No dia em que a vida e a morte se fundirem, como um quebra-cabeça que não fomos capazes de montar inteiramente.
* * *
E-mail: gilmar.marcilio@pioneiro.com
imagem: Trilha Jardim (Pelotas/RS) – arquivo 3º Milênio
* * *
Gilmar escreveu, Bê enviou... pareceu que adivinharam meu momento. Logo no primeiro parágrafo, pensei: "recadinho do universo?". (rs)
Sincronicidades... elas existem!
Não é incomum encontrar criaturas que se vangloriam de ter conquistado fortuna ou fama jogando no lixo princípios e valores. Percorreram a estrada ateando fogo nos lugares já ultrapassados. Usam e descartam, esquecendo-se que caminhamos todos sobre uma corda esticada e frágil. Ao mais breve descuido, e inúmeras vezes sem que possamos interferir, uma mão invisível nos achata, devolvendo-nos à nossa real estatura.
A ideia de ir em frente pode ser apenas uma ilusão. Não raro pisamos sobre o mesmo solo, revemos antigas paisagens. Por força do hábito, pela repetição incessante de gestos e sentimentos, encolhemo-nos e continuamos a girar dentro de pequenos espaços. Às vezes, é preciso revisitar algumas histórias para descobrir onde falhamos, em que momento deveríamos ter mudado, pois o passado costuma borrar o presente com insistência incômoda. Resultado de culpas e situações mal resolvidas, que voltam a nos assombrar. Psicologia elementar, mas que não custa trazer à tona. Avançamos estrepitosamente, fazendo de conta que nada ficou para trás. Ocorre que somos o resultado da sucessão de muitos dias, e vale lembrar que humildade para rever atitudes não tem nada a ver com fraqueza. É, antes, uma aposta em nossa capacidade de destravar outras portas.
Olhar com lentidão, debruçando-se devagar e cuidadosamente para dentro, familiarizando-se com todas as pontes que nos permitiram chegar até aqui. E seguir aplainando as estradas que ainda não sabemos onde vão dar. No fim, talvez seja possível entender o nosso princípio. No dia em que a vida e a morte se fundirem, como um quebra-cabeça que não fomos capazes de montar inteiramente.
* * *
E-mail: gilmar.marcilio@pioneiro.com
imagem: Trilha Jardim (Pelotas/RS) – arquivo 3º Milênio
* * *
Gilmar escreveu, Bê enviou... pareceu que adivinharam meu momento. Logo no primeiro parágrafo, pensei: "recadinho do universo?". (rs)
Sincronicidades... elas existem!
4 comentários:
Querida Lu Deus te proteja sempre neste caminho de amor e doação. lindo tudo isto
bjs
Oi Lú
Tá uma delícia este teu espaço.....parabéns.....me senti em casa......
Obrigada
Beijo meu
Bê
Oi Lú!
Realmente o texto é interessante. Eu, particularmente, acredito que estamos sempre passando por situações propícias para sentir qualquer emoção, negativas ou positivas, mas quando passamos pelas situações que costumam trazer as negativas e as enfrentamos dispóstos a aprender e deixar de lado o sofrimento, elas vão amenizando até se extinguirem. Mas é interessante limpar o acúmulo. Isso tu sabes, faz uma grande diferença. Bjs. Bia
Bonito, Lu...
Sincronicidades sempre tocam a gente! O "recado" chega direto!!
Te encaminhei o email do Prof. Pizarro!
Beijos!
Postar um comentário