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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

• Intimidade

Intimidade

Gilmar Marcilio

Não há indício menos revelador de intimidade do que fazer sexo com alguém. Sempre me causou estranheza o fato de tantos casais escolherem a cama como local preferido para fazerem as pazes depois de alguma espécie de atrito ou desentendimento. Com isso não estou querendo dizer que compactuo com a idéia de que o encontro físico é simplesmente uma descarga e a conseqüente fruição da tranqüilidade que disso advém. Acredito, sim, que quando duas pessoas mantém relações sexuais estão também imbuídas de uma alta carga espiritual. Não são apenas os nossos órgãos que se põem à disposição para que possamos obter uma fantástica gama de prazeres. Não importa se conhecemos essa pessoa há 20 anos ou há algumas horas. É impossível deixar a alma de fora quando o negócio é o corpo. Seria simples se pudéssemos agir assim.

O fato é que a intimidade, no sentido mais profundo em que ela pode ser usufruída, costuma pertencer a outra ordem. Tenho escrito, ao longo do tempo, diversos textos que se debruçam sobre as dificuldades e os entraves que percebo nas relações amorosas. É um tema que me fascina e não encontro nenhuma dificuldade em descobrir material para analisar. Ultimamente, porém, tem-me interessado observar com mais cuidado de que é feito o instigante caminho que serve como suporte para os amantes que continuam merecendo esse nome ao longo do tempo. Tenho visto casais que parecem felizes com a vivência da sexualidade restrita aos dois. Por certo deixaram de lado qualquer competição, qualquer maratona erótica onde precisem provar para si mesmos e para quem está ao lado que são os melhores, o tempo todo. Ninguém o é e deve ser exaustivo ficar marcando pontos ganhos e perdidos, sem descanso. Em cada fase de nossa vida a concepção do que é íntimo sofre um processo de reavaliação. Que se dá, quase sempre, num nível inconsciente. Isso que chamam de maturidade talvez se situe no campo dos olhares mais brandos, que acolhem e aceitam a falha, o desejo que não está presente nas 24 horas do dia, o abraço substituindo o erotismo. O que significa dizer que o amor e o interesse sexual não se manifestam ininterruptamente e não apresentam mais as características de um vulcão. Não são melhores nem piores do que no primeiro dia em que nos sentimos incendiados pela presença do ser amado. São apenas outras pulsações mais serenizadas, menos angustiantes.

Talvez seja neste momento, que nunca é detectado quando acontece, mas sempre retrospectivamente, que a intimidade adquira seu significado mais profundo. E que a palavra companheirismo, tão desgastada por seu uso recorrente, ganhe um contorno de realidade que pode ser detectado no dia-a-dia de um casal que sabe construir uma vida onde a individualidade e a união não sejam excludentes. O tempo que passamos junto com quem amamos não precisa nos converter em irmão gêmeo desta pessoa. Nada mais deprimente do que essas criaturas tão parecidas entre si, não porque vivem imersas num amor de folhetim, mas simplesmente porque perderam toda sua identidade. Uma caminhada que se pressupõe seja feita de mãos dadas, pretendendo a construção de um futuro que agregue a presença de filhos, netos e a criação de um cotidiano, por si só, não é boa nem ruim. Apenas permite que deslizemos com menos sobressaltos da juventude à maturidade, e desta à velhice.

Os íntimos, esses sabem que o amor vai se transformando a nossa revelia. Que aqui e ali será preciso ceder, tendo um entendimento claro da maneira de ser de quem está ao nosso lado. Mas isso não pode acontecer sob pressão, como se houvesse a obrigação de silenciar, resignando-se. Fala-se aqui de algo bem diferente: conhecer a fisionomia alheia, respeitando-a quando assim se julgar correto ou recorrendo ao quase sempre esquecido diálogo. Lembrar o que disse Nietzsche, sobre as relações amorosas: se depois de 20 ou 30 anos convivendo com a mesma pessoa você ainda sente vontade de conversar com ela, se ainda se interessa pelo que ela tem a dizer, não há dúvida de que está valendo a pena.

Existem muitas maneiras de mostrar que estamos próximos de alguém. Algumas referendadas pelo senso comum, outras pela experiência, no sentido estritamente pessoal. Tenho me inclinado a crer, com a passagem dos dias, que é possível acolher o amor em nós sem nos violentarmos, sem precisarmos abdicar tanto para não sucumbir a uma solidão nem sempre suportável. Caminhar junto não significa caminhar dentro, caminhar por cima. É possível, neste tempo de novidades que surgem de hora em hora, quando não de minuto em minuto, construir uma afetividade a longo prazo. Precisamos fugir dessa demanda rasteira que nos obriga a descartar o que acolhemos lá atrás. Aí descobriremos as alegrias de partilhar não somente a cama, mas outras oferendas, aparentemente mais modestas, mas que revelam a grandeza de um projeto que não é só físico. Um projeto que pertence à esfera do sublime.

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Fonte: Pioneiro
E-mail: gilmar.marcilio@pioneiro.com

Um comentário:

Luz Estel@r disse...

Maravilhoso.
Bjaoooooooo